E se de repente você descobrisse que é possível criar
dinheiro do nada. Simplesmente você tira dinheiro de um lugar onde não existe e
empresta para outra pessoa.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: Princípios de micro
e macroeconomia. Tradução da 2ª Ed. original Maria José Cyhlar Monteiro. – Rio de
Janeiro: Elsevier, 2001
VASCONCELOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia Micro e Macro. São Paulo. Editora Atlas (2009)
Quando criança eu gostava de assistir na televisão
o programa dos trapalhões. No programa teve um episódio em que os personagens
tinham uma planta que ao invés de frutas ela dava dinheiro. Na vida real não
existe isso, embora existam as máquinas de fazer dinheiro e há até quem
falsifique notas. Mas bem mais interessante do que a máquina de fazer dinheiro
é o sistema que cria dinheiro do nada. Não precisa imprimir nota alguma, não
precisa falsificar nada é tudo legal e todos concordam. Eu estou falando do
nosso sistema monetário e os meios de criação de moeda.
É quase impossível imaginar hoje um mundo sem moeda. Embora
isso já tenha ocorrido há muito tempo atrás, a necessidade obrigou o homem a
criar um objeto de troca que fosse aceito por todos, que fosse fácil de
manusear, que não se deteriorasse com o tempo. Antes as pessoas trabalhavam e trocavam o excedente
do seu trabalho por outros bens que precisavam para sobreviver. Era mais ou
menos assim: Se eu sou pescador e João é marceneiro nós, obviamente, produzimos
bens diferentes. Se eu precisar de um barco novo posso trocar os peixes que não
vou usar para me alimentar com o João por um barco que provavelmente ele é
capaz de fazer na qualidade de marceneiro. Essa forma de comércio era a única
existente antes da invenção da moeda. Embora ela não tenha deixado de existir
nos dias atuais ela não é mais a principal forma de comercialização que temos
hoje. Hoje em dia as pessoas trocam seus produtos e serviço por moedas. As
moedas servem por sua vez para serem trocadas por outros tipos de produtos e
serviços. Isso facilita bastante à circulação das mercadorias, pois sem a moeda
era complicado arranjar pessoas com produtos diferentes e interesses iguais. Se
eu tiver apenas peixe e estiver interessado em um barco e João tiver o barco
mais não está interessado em peixes, eu teria que procurar outra pessoa que construísse
o barco para mim em troca dos meus peixes. Nesse caso era necessária a
existência da chamada dupla coincidência de desejos. Possuindo as características
que eu citei no início as primeiras moedas foram feitas de metal. E desde
início a moeda já anulava a necessidade da existência da dupla coincidência de
desejos.
A moeda pôde atuar como meio troca acabando com o escambo.
Pelo menos como principal forma de troca de bens e serviços, como já falei
antes. Além disso, ela pode servir como unidade de conta. Eu não preciso ficar
medindo quanto trabalho dá para fazer um barco ou para pescar certa quantidade
de peixes. Ao invés disso eu posso dizer que irei cobrar uma quantidade “X” de
moedas por hora de trabalho. As outras pessoas podem fazer a mesma coisa e
assim quando eu precisar de algo basta trocar pela quantidade certa de moedas
que eu já adquiri com o esforço do meu trabalho. A moeda pode funcionar também como
reserva de valor. Se eu não quiser trocar imediatamente as minhas moedas posso
guarda-las sem me preocupar se no futuro elas perderão o valor que elas têm
hoje, embora essa situação possua algumas ressalvas. É o caso da
inflação que altera o valor da moeda com o tempo. Mas isso fica para outro
texto.
Hoje em dia, apesar de ainda existir o dinheiro de metal, a
maioria das moedas em circulação são notas de papel. Mas será que todo o dinheiro
que temos está apenas sob esta forma? Claro que não. Quando você deposita dinheiro
no banco e ele fica na sua conta tudo que vai haver lá são apenas números. Isso
mesmo, apenas números! Existem muitas formas de se acumular dinheiro, a
principal delas, a que tem maior liquidez (mais fácil de trocar) é o papel
moeda, o dinheiro propriamente dito. Outras formas são poupanças, aplicações
financeiras, títulos públicos e etc. Os economistas classificam cada uma delas
de acordo com a liquidez, a facilidade com que se tem de trocar. São os
chamados meios de pagamentos. É o malabarismo que os banqueiros fazem com esses
números que possibilitam a criação de dinheiro do nada. Melhor dizendo, a
criação de moeda através do sistema bancário. O dinheiro que você deposita no
banco serve para que ele possa emprestar parte dele para outra pessoa. A pessoa
que recebeu o dinheiro, por sua vez, pode depositar o dinheiro em outro banco
que vai fazer a mesma coisa que o primeiro banco fez. Ou seja, vai emprestar
para outra pessoa. O processo vai continuar sucessivamente até que no último banco
não sobre mais nada para se emprestado daquele dinheiro que você depositou no primeiro
banco, pois cada banco ficou com uma parte do dinheiro que você depositou no
início.
A esse processo
dar-se o nome de sistema bancário de reservas fracionárias. Quando as pessoas depositam dinheiro em um
banco ele sabe que dificilmente todas as pessoas irão resgata-lo na mesma hora.
Sempre vai ficar dinheiro sobrando sem ser utilizado. É esse dinheiro que não
esta sendo utilizado no momento que o banco usa para emprestar para outras
pessoas. Traduzindo em números. O banco é obrigado de acordo com regulamentação
governamental ou política bancária a reservar uma fração do valor de tudo que
ele empresta. Vamos dizer que essa fração seja na razão de 40%. Um primeiro
depósito de 1000 no banco um permite a este banco emprestar 600, já que ele é
obrigado a ficar com 40% desse valor para reservas. O segundo banco vai receber
um depósito de 600. Destes, 240 viram reserva e 360 são emprestados. E assim
continua o ciclo. Logo percebemos que um depósito inicial de 1000 gerou uma
sequência de novos depósitos nos valores: 600; 360; 216; 129,6;... Essa
sequência constitui uma progressão geométrica decrescente de razão 0,6. Ela
corresponde à quantidade de dinheiro que vai ser gerado a partir de um depósito
inicial de 1000. Ao somarmos os termos da PG (voltando um pouco os tempos do
ensino médio) teremos um total de 2500. Um depósito inicial de 1000 gerou um
total de 2500, isto é foi multiplicado por 2,5. Assim cada real depositado no
primeiro banco foi multiplicado por duas vezes e meia o seu valor.
Achou complicado? Trocando em miúdos. Você deposita dinheiro
no banco ele aproveita pra emprestar dinheiro pra outras pessoas, ganha juros
em cima do dinheiro que teoricamente é seu e ainda cria mais dinheiro do nada através
do dinheiro que você depositou. E pra compensar os bancos te pagam uma marrequinha
pelo você depositou sob a forma de juros da poupança. E antes que você saia por
aí aos berros, "BRASIL PAÍS DOS LADRÕES", saiba que esse sistema é mundial e que
essa crise que está rolando por aí é um pouco que consequência disso. Eles
criaram uma bolha de empréstimos que chegou uma hora que fica difícil de
sustentar.
Referências:
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