Festanças ajudam realeza britânica a sobreviver
Já faz mais de 300 anos que a Revolução Gloriosa instalou o regime parlamentarista no Reino Unido e deixou rei e rainha como figuras quase que decorativas no governo. O tempo tratou de enfraquecer paulatinamente o poder político da monarquia britânica, mas não tirou o brilho e a mística que cercam a família real. O casamento entre o príncipe Charles e Diana Spencer, 30 anos atrás, converteu-se em uma das maiores cerimônias da história, vista por 750 milhões de pessoas no planeta e que levou 600 mil às ruas. No próximo dia 29, o mundo de novo volta seus olhos à realeza britânica. Hora de ressuscitar o conto de fadas que permeia o imaginário popular. O príncipe William, o segundo na linha de sucessão ao trono, e sua noiva Kate Middleton dirão o aguardado “sim” em cerimônia na Abadia de Westminster. É o glamour como resquício da história.
O casamento real deixou de ser, há longas décadas, um evento com peso político. No auge das monarquias, era praticamente um negócio selado entre Estados. “Antes, isso era fundamental para um país. Fazia parte das relações entre chefes de Estado. No século 21, as monarquias só têm poder no conto de fadas, e não mais na realidade política de uma nação. Virou quase uma questão de marketing. E o Reino Unido personifica isso muito bem”, pondera o historiador Marco Antônio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Não há mais nenhuma implicação política no casamento real, mas existe o apelo simbólico. As pessoas gostam de assistir. As figuras de rei, rainha, príncipe e princesa ainda são muito fortes no imaginário das pessoas”, completa.
Segundo ele, a simbologia monárquica é mais eficaz e duradoura que a republicana. “Ninguém fala que Pelé é o presidente do futebol. Dizem que ele é o rei”, compara Villa. O Brasil deixou de ser monarquia e virou república federativa há 122 anos.
compara Marco Antônio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
O passado era recheado de situações extremas, em que os noivos só se conheciam durante ou após a celebração do matrimônio. É o caso do último imperador brasileiro, Dom Pedro II, que se casou por procuração em 30 de maio de 1843 com Teresa Cristina, filha do rei Francisco, das Duas Sicílias. Ambos só foram apresentados após casados. Bem diferente do príncipe de Gales, William, que namorou por oito anos com Kate antes de pedi-la em casamento. “Sob o ponto de vista do relacionamento, agora é muito mais saudável. Mas foge à tradição”, observa o especialista.
Aliás, o iminente enlace entre os noivos britânicos evidencia que o passar dos anos e a decadência política da monarquia minaram algumas outras tradições antes indiscutíveis e consideradas imutáveis, como o casamento entre um “sangue azul” e uma “plebeia”. Catherine Middleton, ou simplesmente Kate, ao subir ao altar, se tornará a primeira monarca britânica sem qualquer descendência aristocrática. Séculos atrás, uma união entre eles seria improvável. Kate é filha de mãe aeromoça e pai despachante.
Lady Di – que se casou com o príncipe Charles em 29 de julho de 1981, na catedral londrina de Saint Paul, e morreu em 31 de agosto de 1997, em Paris, em um acidente de carro – tinha origem na nobreza, embora não fosse propriamente uma “sangue azul” do mais alto escalão. Seu pai foi Edward John Spencer, o 8º conde Spencer. Sua mãe, Frances Ruth Shand Kydd, era filha de barão.
Mesmo caso de lady Elizabeth Bowes-Lyon, mãe da rainha Elizabeth II, atual ocupante do trono. Apesar de ser parente distante do rei Henrique VII, que governou no século 15, lady Elizabeth era considerada plebeia e, por isso, chegou a recusar por duas vezes o pedido de casamento de George VI, terceiro membro da Casa de Windsor a assumir o trono. A história de George VI inspirou o filme O discurso do rei, vencedor do Oscar deste ano.
O mundo é outro, a família real vê seu glamour limitado pelo plano de ajuste orçamentário para reduzir déficit recorde no país, mas o God save the queen segue firme no gosto dos britânicos: 76% se orgulham de viver uma monarquia, de acordo com o Instituto ComRes. Um milhão de pessoas devem acompanhar o cortejo do casal pelas ruas de Londres. O número de espectadores no mundo pode chegar aos 4 bilhões, público mais de cinco vezes superior ao que assistiu ao casamento dos pais de William.
Fonte: Jornal do Comércio
Já faz mais de 300 anos que a Revolução Gloriosa instalou o regime parlamentarista no Reino Unido e deixou rei e rainha como figuras quase que decorativas no governo. O tempo tratou de enfraquecer paulatinamente o poder político da monarquia britânica, mas não tirou o brilho e a mística que cercam a família real. O casamento entre o príncipe Charles e Diana Spencer, 30 anos atrás, converteu-se em uma das maiores cerimônias da história, vista por 750 milhões de pessoas no planeta e que levou 600 mil às ruas. No próximo dia 29, o mundo de novo volta seus olhos à realeza britânica. Hora de ressuscitar o conto de fadas que permeia o imaginário popular. O príncipe William, o segundo na linha de sucessão ao trono, e sua noiva Kate Middleton dirão o aguardado “sim” em cerimônia na Abadia de Westminster. É o glamour como resquício da história.
O casamento real deixou de ser, há longas décadas, um evento com peso político. No auge das monarquias, era praticamente um negócio selado entre Estados. “Antes, isso era fundamental para um país. Fazia parte das relações entre chefes de Estado. No século 21, as monarquias só têm poder no conto de fadas, e não mais na realidade política de uma nação. Virou quase uma questão de marketing. E o Reino Unido personifica isso muito bem”, pondera o historiador Marco Antônio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Não há mais nenhuma implicação política no casamento real, mas existe o apelo simbólico. As pessoas gostam de assistir. As figuras de rei, rainha, príncipe e princesa ainda são muito fortes no imaginário das pessoas”, completa.
Segundo ele, a simbologia monárquica é mais eficaz e duradoura que a republicana. “Ninguém fala que Pelé é o presidente do futebol. Dizem que ele é o rei”, compara Villa. O Brasil deixou de ser monarquia e virou república federativa há 122 anos.
"Ninguém fala que Pelé é o presidente do futebol. Dizem que ele é o rei"
compara Marco Antônio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
O passado era recheado de situações extremas, em que os noivos só se conheciam durante ou após a celebração do matrimônio. É o caso do último imperador brasileiro, Dom Pedro II, que se casou por procuração em 30 de maio de 1843 com Teresa Cristina, filha do rei Francisco, das Duas Sicílias. Ambos só foram apresentados após casados. Bem diferente do príncipe de Gales, William, que namorou por oito anos com Kate antes de pedi-la em casamento. “Sob o ponto de vista do relacionamento, agora é muito mais saudável. Mas foge à tradição”, observa o especialista.
Aliás, o iminente enlace entre os noivos britânicos evidencia que o passar dos anos e a decadência política da monarquia minaram algumas outras tradições antes indiscutíveis e consideradas imutáveis, como o casamento entre um “sangue azul” e uma “plebeia”. Catherine Middleton, ou simplesmente Kate, ao subir ao altar, se tornará a primeira monarca britânica sem qualquer descendência aristocrática. Séculos atrás, uma união entre eles seria improvável. Kate é filha de mãe aeromoça e pai despachante.
Lady Di – que se casou com o príncipe Charles em 29 de julho de 1981, na catedral londrina de Saint Paul, e morreu em 31 de agosto de 1997, em Paris, em um acidente de carro – tinha origem na nobreza, embora não fosse propriamente uma “sangue azul” do mais alto escalão. Seu pai foi Edward John Spencer, o 8º conde Spencer. Sua mãe, Frances Ruth Shand Kydd, era filha de barão.
Mesmo caso de lady Elizabeth Bowes-Lyon, mãe da rainha Elizabeth II, atual ocupante do trono. Apesar de ser parente distante do rei Henrique VII, que governou no século 15, lady Elizabeth era considerada plebeia e, por isso, chegou a recusar por duas vezes o pedido de casamento de George VI, terceiro membro da Casa de Windsor a assumir o trono. A história de George VI inspirou o filme O discurso do rei, vencedor do Oscar deste ano.
O mundo é outro, a família real vê seu glamour limitado pelo plano de ajuste orçamentário para reduzir déficit recorde no país, mas o God save the queen segue firme no gosto dos britânicos: 76% se orgulham de viver uma monarquia, de acordo com o Instituto ComRes. Um milhão de pessoas devem acompanhar o cortejo do casal pelas ruas de Londres. O número de espectadores no mundo pode chegar aos 4 bilhões, público mais de cinco vezes superior ao que assistiu ao casamento dos pais de William.
Fonte: Jornal do Comércio
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