“Estava fazendo o patrulhamento de rotina quando o motorista do ônibus cortou luz e pedimos para que ele parasse. Perguntamos qual era o problema e ele contou que esse Diego estava fazendo baderna no ônibus, não tinha pago a passagem e se recusava a descer do transporte”, revelou o sargento. Nessa situação, o policial contou que teve que usar a “força necessária” para que o baderneiro descesse, mas ele, mesmo assim, não desceu.
“Ele falava: ‘não vou descer e quero ver vocês me tirarem daqui se puderem’. Ele só podia estar sob efeito de algum entorpecente ou era louco mesmo. Ninguém em estado normal de consciência iria tentar confrontar policiais militares armados”, afirmou o sargento. Com o auxílio de M. Costa e do outro soldado, que estava como motorista da viatura, mas que foi até à porta do ônibus para ajudar a tirar Diego de lá, o baderneiro desceu.
“Foi nesse momento que ouvi alguém dizendo: ‘a arma caiu’. Quando vi, já foi ele atirando contra mim e, depois, contra M. Costa. Então, saiu correndo e o outro soldado foi atrás e conseguiu pará-lo. Foi tudo muito rápido. A ação não durou 10 segundos”.
No chão depois de ser baleado, o sargento contou que ouviu M. Costa dizendo que havia sido atingido também. “Disse a ele para sentar do meu lado e respirar, porque o socorro estava chegando, mas ele falava: ‘sargento, não estou bem’. Depois disso, fui levado para o (hospital) Walfredo Gurgel e lá recebi a notícia que ele havia morrido”.
Em quase 19 anos de Polícia Militar, o sargento contou que jamais tinha passado por algo desse tipo e agora não sabe se vai voltar para a patrulha nas ruas. “A PM perdeu um grande policial, e perdi um grande amigo. Não sei se volto. Fiquei muito abalado”, declarou.
bate papo - Emanuel Flor » Sargento da PM
Como está sua recuperação?
Tenho que trocar o curativo da coxa (direita) todos os dias e nem uma muleta eu tenho para andar. Não estou conseguindo firmar a perna no chão. Fora isso, estou bem. Não precisei passar por cirurgia, porque a bala entrou e saiu.
E o trauma de ver o colega morrer, é grande?
Muito. Tenho quase 19 anos de Polícia e nunca tinha passado por isso. M. Costa era meu amigo, trabalhava com ele há quase um ano. Era um policial exemplar. Estou muito sentido. Ainda mais, porque pela forma como aconteceu, poderia ter sido eu.
Afinal, de quem foi a arma que caiu? A sua, a de M. Costa ou Diego estava armado?
Não sei. Só a perícia vai poder apontar.
Você já prestou depoimento?
Ainda não, mas vou prestar. Soube que o motorista do ônibus já foi ouvido. Devo prestar depoimento nos próximos dias.
Como está o outro soldado que estava na ação com vocês?
Fisicamente, ele está bem, mas também abalado psicologicamente.
Diego parecia mesmo estar fora de si?
Sim. Ninguém normal vai confrontar policiais militares armados como ele fez. Digo mais: ainda bem que ele foi neutralizado porque o incidente poderia ter sido muito maior. Havia muita gente na frente do shopping, outras pessoas inocentes poderiam ter sido baleadas.
O que você espera agora desse caso?
Espero Justiça. Soube que algumas pessoas já quiseram colocar Diego como estudante inocente e que tudo foi resultado da truculência da PM, mas não foi assim. Fui baleado defendendo a sociedade de algo que poderia ser pior. Meu colega morreu do mesmo jeito. Se aquele homem tivesse continuado armado, do mesmo jeito que ele atirou contra a gente, poderia ter matado outras pessoas. Tenho certeza disso. Foi legítima defesa nossa.
Pretende voltar para as ruas?
Não sei. Estou muito abalado. Já tinha participado de troca de tiros, mas nunca tinha sido baleado e nunca tinha visto um amigo meu morrer em ação.
Ciro Marques - repórter
FONTE; Tribuna do Norte
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